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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Chris Arruda




Sob uma nova perspectiva...
Chris Arruda
Estou longe de saber o rumo certo, mas passei a acreditar no que já ouvi diversas e repetidas vezes, nos conselhos repetidos dos mais velhos, na maturidade dos mais “vividos”, no sentimento das palavras duras de meus pais e no riso deles também, na coragem de meus velhos amigos ainda novos, passei a acreditar mais na minha juventude também. Hoje não acho mais que gostavam mais de meu irmão, nem tenho mais vontade de ser aquele cara mais popular e bonito da escola, nem quero nenhuma daquelas meninas que tanto queria e só ele tinha. Depois de muito tempo me dei conta que o tempo realmente passa para os adolescentes, quem diria, passa pra eles também, derrubando suas teorias e revoltas, torna-os chatos adultos. Deus livrai-me dos adultos chatos, de eu vir a ser um adulto chato. Hoje consigo enxergar a verdade por trás dos discursos bonitos, a emoção que exala das belas leituras, a revolta atraente dos que não suportam injustiças.
Há muito no que reparar em um simples passeio no fim da tarde, há muito não o faria. Hoje sou capaz de suportar certos receios que outrora me afastaria, mas agora não fazem diferença alguma. O tempo é o senhor da razão! Não amadurece a fruta e se torna suculenta atraindo os olhos dos que a roubam, dos que a vendem, dos que a possuem, sem que aja sobre ela a força do tempo, deixando-a madura. Assim é a vida nossa, o tempo ensina, mas inversamente proporcional a velocidade em que passa, é preciso estar atento, “são se pode fechar os olhos, não se pode olhar atrás sem se aprender alguma coisa pro futuro”. Isso tudo é um novo sentido para a palavra liberdade, ou ela vista com os olhos virado para dentro de si mesmo. E isso é justo, todos podem fazê-lo, poucos tentam, alguns conseguem, mas a grande maioria exercita a sua liberdade de viver na ignorância. Não os critico, eles vivem num estado onde é mais fácil de se viver. No entanto, gosto de emoções, de preferência fortes.

sábado, 13 de agosto de 2011

O menino

Mais um dia de trabalho, acordar, levantar, lavar o rosto e acordar de verdade.
Encarar esses transportes coletivos é sempre um grande sacrifício.  Mas já são 16:00 h. Não importa o horário, é sempre um saco.
Sentei nas cadeiras do fundo, como de costume no assento intermediário da ultima fileira, a única fileira continua de cadeiras, com cinco assentos. O ônibus enchia cada vez mais, do meu lado esquerdo não lembro quem, mas do meu lado direito haviam dois estudantes vindo de um curso de inglês, percebi pela apostila na mão. O mais velho deveria ter entre 13 e 14 anos, o mais jovem, uns 11 ou 12 anos, no máximo.
O mais moço com a apostila nas mãos, dormia na sacolejar do veículo, ostentando à altura dos olhos aquelas folhas de papel com palavras em inglês, e em meio a meia dúzia ou mais de pessoas em pé, surge um outro menino. Também não tinha mais que 12 anos, pele morena não tão escura, e cabelos por cortar. Este não trazia nada nas mãos, a não ser  três anéis grossos em três dedos finos, começando pelo mindinho, em ambas as mãos. Não fazia curso de inglês, talvez nem fosse a escola, estava com a camisa suja, descalço, e o lodo cobria parte de seus pés. Seu rosto era bonito, porém mais envelhecido que sua pouca idade, marca de que vivera mais que os seus, talvez, 12 anos.
Seu olhar sério durante a maior parte do percurso,  os anéis grossos, sua pele mais envelhecida que o normal lhe dava um semblante de adulto, talvez tivesses responsabilidades de adulto, atribuições de adulto, ou quem poderia dizer quantos julgamentos injustos já sofrera, quantos já o chamaram de marginal, e era um marginal, a margem de uma sociedade que excluí.
De repente o ônibus entrou em um bairro mais periférico, ele veio para perto da porta, seu ponto de descida se aproximava, e ele percebeu os meninos ao meu lado, bem vestidos, vindo do curso de inglês, um deles com a apostila de inglês na altura dos olhos, e dormia. Ele, descalço, cabelos bagunçados já precisando de um corte, e a roupa suja. Olhou para o que dormia e abriu um sorriso, achou engraçado o outro menino dormindo sem deixar as mãos que seguravam a apostila caírem sobre o colo. Achou engraçado! E era um sorriso de criança, eu também sorri, era uma criança, não importam o que digam ou o que tenha vivido, ou esteja vivendo, era apenas uma criança, foi isso que aquele sorriso me disse.
Ele desceu num ponto próximo a uma quadra de futebol, juntou-se a outras crianças que ali estavam e que já o esperavam, pois gritaram algo que não entendi direito quando ele desceu, acho que reclamavam por sua demora. E o ônibus partiu, nunca mais vi o menino, mas aquele sorriso de criança não saiu de minha cabeça.