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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os seus olhos que eram

Ele entrou na sala pela primeira vez no meio do mês de abril. Era semana de avaliação, a unidade estava preste a acabar. Veio transferido de outra escola, de outra cidade, não sabia qual em ambas. Seu nome fora dito pela vice-diretora ao apresentá-lo, um nome lindo, ele era lindo, enfim alguém a cativara, ela em seu mundo particular ao qual se exilara para fugir dos grupinhos de meninas toscas e sem criatividade, que como existente em todas as escolas se auto intitulavam "clube das luluzinhas. Também não gostava da luluzinha, da turma da mônica e outros do gênero. Assistia as vezes caverna do dragão- o desenho sem final- gostava de ler mangá e do bob esponja, mas preferia mesmo poemas, tal qual Bukovski, Alvares de Azevedo e Fagundes Varela. Alguns romances a interessavam também, lera "O homem que calculava" de Malba Tahan e ficou impressionada, mas o seu preferido era "O hotel branco". Algum tempo depois li "Travessuras da menina má", mas o melhor de todos mesmo é "o hotel branco". Será que ele vai olhar pra mim? será que vai me ver? Mas como se me construir pra não ser vista, não ser notada?. Nem suas notas eram destaque, não era aluna ruim, era regular, mediana, uma aluna medíocre. Não era CDF, gostava de história e literatura, e nisso teve sorte, pois ele mesmo dissera ser história uma disciplina muito interessante. Do mais, não conseguia decifrar suas frases, não existia nexo na junção das palavras, não conseguia tirar os meus olhos dos deles, de sua barba rala e seu cabelo com cachinhos a se formar por estar um tanto crescido. Não prestava atenção em mais nada. Aulas, palavras sem nexo.
AO chegar em casa não conseguiria pensar em outra coisa, passaria horas procurando o artista com a música que mais falasse a ela, e a certeza de que lembraria aquela voz que falava algo sobre ágora e atenas, que não tinha entendido, mas sabia, tinha a certeza, era impossível esquecer voz tão doce, ele era o mais lindo de todos.
Havia algo a mais, algo maior que ela, que tornara a escola um lugar menos hostil, mais interessante. Isso sua mãe ja havia percebido, como era inevitável notar nas suas roupas, e no seu corpo. Os colegas falavam em murmúrios sobre suas formas agora salientes em suas roupas mais apertadas, e sem os contornos negros ao redor dos olhos seus cabelos negros e ondulados contrastavam com sua pele branca e raras espinhas. Sim, ela era bonita, ela descobre-se agora junto a todos, e e tudo pra ele, mas ele nem parece notar, falava-a naturalmente, assim como se dirigia a todas as outras. Teria namorada? Quem seria ser tão sortudo.
E ela iria terminar o ensino médio e sem perceber, se daria conta de que já o havia esquecido há muito. Deve ter se perdido em meio as pequenas e constantes paixões da adolescência, e ela nem percebera, não sabe quando. Suas novas amigas de faculdade escutam rindo ela contando essas histórias, em meio ao discurso percebe o quanto mudou, o quanto amadureceu. Suas amigas dizem que também já se apaixonaram por professores no ensino médio; talvez todas ou a maioria das meninas do mundo também. No meu caso, me encantei pelo professor de filosofia, Gabriel, no primeiro ano do ensino médio. Hoje não sei onde ele está, nem se continua dando aula, soube que tinha passado num concurso para o Banco do Brasil, não tenho certeza. Mas é engraçado lembrar, lembrar é bem engraçado.

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